A postura dos bancos centrais diante do Bitcoin ainda varia de hesitante a hostil em muitos países. No entanto, em abril de 2025, o Banco Central da Nigéria (CBN) surpreendeu ao anunciar uma mudança significativa em sua política monetária: a flexibilização de restrições ao uso de Bitcoin e de plataformas de negociação que operam com o ativo digital.

O anúncio marca uma guinada notável no posicionamento do país, que até então havia imposto severas barreiras ao comércio de Bitcoin dentro de seu sistema financeiro. Agora, o CBN propõe uma regulamentação mais clara, objetiva e funcional, em vez de proibições generalizadas que apenas empurraram a atividade para o mercado informal.
Da repressão à regulação: o que mudou?
Desde 2021, a Nigéria adotava uma postura agressiva contra o uso de Bitcoin. O banco central proibiu as instituições financeiras de fornecerem serviços a empresas que negociavam o ativo, fechando contas e pressionando corretoras locais.
Apesar disso, o uso de Bitcoin não parou de crescer no país, especialmente entre jovens empreendedores e nigerianos expatriados que enviam remessas às suas famílias.
A nova diretriz reconhece esse fenômeno. Em vez de combater o Bitcoin, o CBN decidiu regulamentar seu uso de forma mais transparente, permitindo que instituições atuem sob diretrizes claras e com supervisão — sem criminalizar a atividade.
De acordo com o comunicado oficial, as novas regras visam:
- Reduzir os riscos de lavagem de dinheiro;
- Estimular inovação em meios de pagamento;
- Integrar a economia informal ao sistema financeiro;
- Aumentar o controle fiscal sem sufocar a liberdade econômica digital.
Por que a Nigéria está mudando agora?
A decisão não veio por acaso. A pressão popular, a crescente inflação e o enfraquecimento da moeda local (naira) tornaram insustentável a postura anterior.
Além disso, a adoção popular do Bitcoin na Nigéria está entre as mais altas do mundo, segundo dados da Chainalysis. Cerca de 12% dos nigerianos adultos afirmam já ter utilizado Bitcoin para transações, principalmente como proteção contra desvalorização cambial e como meio de envio de remessas.
Outro fator importante foi a ineficácia do eNaira, moeda digital de banco central (CBDC) lançada em 2022, que teve adesão mínima e ampla rejeição da população. Isso obrigou o governo a buscar soluções mais compatíveis com a realidade do mercado — e o Bitcoin, claro, era a alternativa mais óbvia.
Como o mercado reagiu
As corretoras locais receberam a notícia com entusiasmo. Empresas como Yellow Card e Paxful, que mantiveram operações limitadas ou alternativas durante os anos de repressão, agora se preparam para voltar com força total, oferecendo produtos mais sofisticados e integração com bancos tradicionais.
Além disso, investidores internacionais passaram a observar a Nigéria com mais atenção. Um país africano com forte penetração de Bitcoin, população jovem, digitalizada e uma economia em desenvolvimento é terreno fértil para projetos de infraestrutura financeira descentralizada.
Organizações que promovem educação sobre Bitcoin, como a BTrust (fundada por Jack Dorsey), também elogiaram a medida. Segundo porta-vozes, a nova regulamentação pode servir de exemplo para outras nações africanas que ainda mantêm posturas repressivas.
Bitcoin como pilar de soberania financeira
A decisão do CBN evidencia uma realidade que muitos governos têm relutado em aceitar: não se trata mais de escolher se vão ou não adotar o Bitcoin, mas sim de decidir como fazê-lo sem perder o controle social, fiscal e jurídico.
Ao flexibilizar suas regras, a Nigéria não está simplesmente “cedendo”. Ela está se adaptando a um novo paradigma monetário, onde o cidadão — e não o governo — escolhe qual dinheiro usar.
Isso representa um passo em direção à soberania financeira individual. E nesse contexto, o papel do Estado muda: ele deixa de ser o único emissor de moeda e passa a ser um mediador de inovação, segurança e direitos.
Conclusão: o futuro africano é Bitcoin?
O movimento do Banco Central da Nigéria não deve ser visto como exceção. Pelo contrário, pode inaugurar uma nova fase na relação entre Estados africanos e o Bitcoin, baseada em diálogo, pragmatismo e oportunidades reais de crescimento.
Enquanto bancos centrais da Europa e dos EUA se debatem com suas moedas digitais fracassadas e legislações ineficazes, a Nigéria está dando um passo na direção certa — a direção da liberdade, da inclusão e da modernização financeira real.