Desde sua criação, a rede Bitcoin se mantém viva graças ao trabalho dos mineradores. São eles que asseguram as transações, garantem a integridade da blockchain e recebem, como recompensa, novos bitcoins emitidos. Contudo, à medida que o setor evolui, a geografia da mineração também muda — impulsionada principalmente pelo custo da energia.

Nas últimas décadas, países como China e Estados Unidos dominaram a mineração global. No entanto, com as recentes restrições impostas por Pequim e o aumento dos custos energéticos no Ocidente, uma nova tendência ganhou força: o deslocamento das fazendas de mineração para regiões com energia abundante e barata, especialmente no Leste Europeu e na Ásia Central.
O que antes eram periferias energéticas do mundo agora se transformam em centros de poder digital.
Mineração e custo energético: a equação inevitável
Minerar Bitcoin é, essencialmente, converter energia elétrica em segurança de rede. Portanto, quanto menor o custo da eletricidade, maior a lucratividade da operação. Por esse motivo, países com excedente energético ou redes pouco exploradas tornam-se imãs para operações de mineração.
Além disso, em muitos desses locais, há incentivos governamentais, isenção de impostos ou simplesmente a ausência de regulamentação, o que permite que mineradores operem com pouca interferência estatal.
Cazaquistão: o epicentro emergente
Após a repressão à mineração na China em 2021, milhares de máquinas ASIC migraram para o Cazaquistão. O país, com abundância de usinas a carvão e energia subsidiada, rapidamente se tornou o segundo maior polo de mineração do mundo, atrás apenas dos EUA.
Contudo, o crescimento rápido demais pressionou a frágil infraestrutura elétrica local. Apagões forçaram o governo a implementar restrições e novas taxas sobre o consumo dos mineradores. Ainda assim, muitas operações continuam ativas, agora com foco em fontes renováveis e acordos regionais com distribuidoras privadas.
Segundo o BTC Times, empresas norte-americanas e russas disputam territórios no país, criando parcerias com governos locais para estabilizar e expandir a capacidade energética da região.
Geórgia: da energia hidrelétrica à soberania digital
A Geórgia, pequena república do Cáucaso, também se destacou como hub de mineração nos últimos anos. Com matriz energética predominantemente hidrelétrica e políticas de incentivo, o país viu a mineração crescer tanto que, em certos momentos, ela representou mais de 10% do consumo energético nacional.
Regiões como Tbilisi e Zugdidi atraíram mineradores independentes e corporações internacionais. Inclusive, o envolvimento da gigante Bitfury consolidou a imagem da Geórgia como um laboratório de soberania energética e digital.
Além disso, a infraestrutura blockchain se expandiu para além da mineração: o governo implementou registros públicos baseados em blockchain, demonstrando que o Bitcoin pode impulsionar não só economias locais, mas também inovações institucionais.
Uzbequistão, Quirguistão e Armênia: os novos jogadores
Outros países da Ásia Central também enxergaram na mineração de Bitcoin uma oportunidade econômica. O Uzbequistão criou zonas econômicas especiais para mineração e até estabeleceu cotas de energia específicas para esse setor.
No Quirguistão, apesar de um histórico de proibições temporárias, comunidades locais passaram a organizar cooperativas de mineração utilizando energia hídrica rural. Já a Armênia aposta em parcerias com empresas russas e iranianas para expandir o setor, especialmente em regiões montanhosas com baixo custo de operação.
Esses países, antes ausentes da disputa econômica global, agora surgem como atores relevantes no mercado de energia digital.
Geopolítica energética: da OPEP ao hash rate
Historicamente, o poder geopolítico esteve ligado ao controle do petróleo. Hoje, a mineração de Bitcoin inaugura uma nova dinâmica: países que antes exportavam energia barata sem protagonismo internacional agora convertem eletricidade em uma commodity digital global — o BTC.
Esse movimento transforma usinas ociosas em centros de renda, cria empregos locais e dá a essas nações uma voz no novo cenário financeiro global. Ao invés de serem apenas consumidoras do sistema, elas passam a ser nodes ativos de soberania monetária digital.
Conclusão: o mapa da mineração está se redesenhando
Enquanto países desenvolvidos apertam a regulação e encarecem a energia, nações com recursos energéticos subutilizados estão capitalizando o potencial da mineração de Bitcoin. Esse novo equilíbrio altera a geopolítica não apenas da energia, mas do próprio dinheiro.
O futuro da mineração pode não estar nos centros financeiros tradicionais, mas sim nos vales do Cáucaso, nas estepes do Cazaquistão e nas montanhas da Ásia Central. Onde houver energia barata e vontade de soberania, haverá Bitcoin.