A maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock, alcançou nesta quarta-feira (16) uma marca histórica: 1 milhão de bitcoins sob custódia indireta, por meio de seus ETFs de Bitcoin spot. Isso representa cerca de 5% do total de BTC já minerados — e aproximadamente 30% de todo o suprimento em circulação líquida.

Esse marco reacendeu um debate já conhecido dentro da comunidade bitcoiner: estamos testemunhando a massificação do Bitcoin ou a concentração em mãos centralizadoras?
De um lado, parte do mercado celebra a entrada de capital institucional como sinal de amadurecimento. De outro, maximalistas enxergam nessa movimentação um alerta vermelho para os fundamentos descentralizados que sustentam o protocolo.
BlackRock acelera a aquisição de BTC com força institucional
Desde o lançamento do ETF iShares Bitcoin Trust (IBIT) em janeiro de 2024, a BlackRock atraiu um fluxo constante de capital institucional. Fundos de pensão, empresas familiares e até órgãos públicos usaram o fundo como acesso regulado e seguro ao Bitcoin.
Com isso, em pouco mais de 15 meses, a gestora acumulou mais de 1.000.539 BTC, segundo dados da Arkham Intelligence e da Glassnode. Esse montante equivale a mais de US$ 65 bilhões, considerando o preço atual do BTC.
Importante destacar: a BlackRock não armazena diretamente os bitcoins. Ela atua por meio de custodians regulados, como a Coinbase Custody, que guardam os ativos em nome dos investidores. No entanto, quem detém o controle operacional sobre esses BTCs é a própria BlackRock — e não os cotistas dos fundos.
Adoção ou concentração? Eis o dilema
A chegada de grandes instituições ao mercado de Bitcoin provoca reações divididas. De um lado, há argumentos sólidos em defesa da legitimidade e do crescimento. Por outro, as críticas alertam para riscos de centralização e enfraquecimento da filosofia original do protocolo.
De um lado: o avanço da legitimidade
A aprovação dos ETFs nos Estados Unidos fortaleceu a imagem do Bitcoin como ativo financeiro legítimo. Afinal, com o respaldo de empresas como BlackRock, o BTC passou a integrar carteiras institucionais ao lado de ações, títulos e commodities.
Além disso, investidores que antes hesitavam em comprar BTC diretamente começaram a investir por meio desses produtos, ampliando a base de adoção global.
Do outro: o risco da dependência excessiva
Contudo, esse movimento também gera preocupações. Ao centralizar milhões de BTC em estruturas controladas por poucas entidades, como BlackRock, o ecossistema se aproxima perigosamente de práticas bancárias tradicionais.
Se a empresa sofrer pressão política ou problemas operacionais, o impacto poderá ser massivo. Nesse cenário, a descentralização — pilar central do Bitcoin — pode ser comprometida.
Ter bitcoin não é o mesmo que controlar bitcoin
Muita gente esquece um detalhe fundamental: quem investe em ETFs não possui BTC diretamente. Essas pessoas compram cotas de um fundo, não satoshis. Isso significa que, mesmo que os ativos existam em blockchain, eles são controlados por uma instituição — e não por indivíduos.
Enquanto isso, aqueles que praticam a autodecustódia com suas carteiras próprias mantêm controle pleno sobre seus BTCs. Eles não precisam pedir autorização para gastar, movimentar ou proteger seus fundos.
Portanto, mesmo que os ETFs facilitem o acesso institucional, a verdadeira segurança e liberdade só existem na ponta do usuário soberano.
O que isso representa para o futuro do Bitcoin?
O Bitcoin é um protocolo neutro. Ele não veta nem favorece ninguém. Dessa forma, qualquer pessoa — seja um investidor institucional ou um anônimo com um celular — pode participar da rede.
A questão não está em impedir que a BlackRock entre no ecossistema. Mas sim, em garantir que essa entrada não enfraqueça os princípios que tornam o Bitcoin único.
Por isso, cabe à comunidade continuar reforçando valores como educação sobre soberania financeira, incentivo à autodecustódia e à operação de nodes pessoais. Sem isso, o BTC pode até ser popular, mas não será mais livre.
Conclusão: liberdade exige responsabilidade
A BlackRock atingiu 1 milhão de BTC sob custódia. Sem dúvida, esse número impressiona. Porém, mais importante do que a quantidade acumulada por uma gestora, é a postura de cada usuário diante do que isso representa.
Se você quer que o Bitcoin continue sendo um instrumento de liberdade, é necessário se responsabilizar pela sua parte na rede. Isso inclui estudar, entender o funcionamento do protocolo e proteger seus ativos longe de terceiros.
Em outras palavras: não terceirize a sua liberdade. Porque, ao contrário dos ETFs, ela não tem como ser resgatada depois.